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História judaica - de 1750 até a segunda guerra mundial
A emancipação dos Judeus Europeus dos guetos tornou-se uma referência indicando a transformação da nação do medieval para o moderno. Após a formação de uma nação laica, os Judeus Franceses receberam direitos civis em 1791 e 1792. Outras nações Europeias seguiram esse caminho durante o século XIX. Comunidades nacionais se distanciaram das formas antigas de Cristianismo, e admitiram os Judeus, embora com reservas.
O Iluminismo judeu (Haskalá)
Na Alemanha, que não tinha se tornado um estado unificado até 1871, os Judeus não receberam plena igualdade. Os direitos dependiam de decisões locais, e em alguns lugares os Judeus recebiam direitos apenas para que lhes fossem retirados em seguida. Não é coincidência que a Alemanha tenha sido o berço do Judaísmo Reformista. Pensadores progressistas buscaram transformar o Judaísmo internamente quando não podiam diminuir o preconceito externo contra os Judeus.
Moses Mendelssohn foi o pioneiro do Iluminismo Judeu, ou Haskalá, o qual defendeu muitas das mesmas ideias sobre liberdade e igualdade de direitos, como aquelas que Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant exploraram. Mendelssohn discutiu abertamente as maneiras pelas quais os Judeus poderiam viver em uma sociedade multi religiosa. “Adote os costumes e a constituição do país no qual você se encontra,” ele escreveu, “mas também seja firme em defender a religião de seus pais.” Nas gerações subsequentes, muitos Judeus, entre eles os pais de Karl Marx, acharam mais fácil simplesmente se converter ao Cristianismo e viver publicamente como Cristãos para ter acesso a empregos, propriedades e outros direitos básicos.
O movimento da Reforma
Mas houve outra resposta ao paradoxo colocado pela modernidade. Inspirados por Mendelssohn, Judeus contestadores nos territórios de língua Alemã, no início do século XIX, elaboraram o movimento da Reforma. Estes reformadores acreditavam que sua missão era levar o Judaísmo em linha com o pensamento moderno; eles também promoveram a ideia de que as preces deveriam ser entoadas na língua local, em vez do Hebraico. Incentivaram os rabinos a olhar além do Talmude e da Torá como orientação. Os reformadores desdenhavam a ideia de que o passado podia ditar a forma de viver num contexto crescentemente laico e industrial . Eles moldaram muitas de suas práticas religiosas às dos Cristãos Alemães encorajando o “decoro” na sinagoga, introduzindo música similar à ouvida nas igrejas, e muitos queriam até mesmo transferir o Shabat para o Domingo. Eles queriam permanecer Judeus, e ao mesmo tempo enfatizar as similaridades do Judaísmo com o Cristianismo.
Movimento Ortodoxo
Estes esforços enfureceram os tradicionalistas, que então reagiram com firme conservadorismo. Alguns rabinos tradicionais já tinham se oposto à emancipação, mas em resposta aos Reformistas, um grupo de adeptos da Halaká criou o novo movimento Ortodoxo. Eles se opuseram a muitas das formas culturais laicas que o Judaísmo tomou nas décadas seguintes: o movimento Ídiche, o Sionismo e quaisquer outras divergências do estrito Halaká. Alguns insistiram que costumes estabelecidos não fundamentados nas leis Judaicas deveriam aceitar a importância da Halaká. É por isso que alguns grupos continuam a se vestir e a falar como seus antepassados há um século ou mais. Estas formas extremas de observância são uma reação tanto à modernidade quanto à Reforma.
Judaísmo Hassídico
Na Europa Oriental, outro movimento religioso, chamado Hassidismo, ganhou força equivalente à Reforma e à Ortodoxia. Fundado no século XVIII por um rabino e místico que se intitulava Israel Baal Shem Tov, o Judaísmo Hassídico cresceu a partir de uma reação populista ao elitismo da tradicional academia Talmúdica. O Judaísmo Hassídico foca nas interpretações místicas dos textos sagrados e no potencial dos Judeus não educados de sentir a santidade. O movimento espalhou-se rapidamente através da Europa Oriental e Central. O Hassidismo causou a oposição de pelo menos duas facções: as tradicionais estruturas legais rabínicas que se atinham ao estudo organizado do Torá, e a intenção dos Judeus “iluministas” de fugir da estrutura opressiva da família Judaica tradicional e se aculturar à sociedade Européia.
Apesar da tensa história do Judaísmo Hassídico que veio a ser conhecido como Ortodoxia, tornou-se mais difícil distinguir os Judeus Ortodoxos rigorosos de seus equivalentes Hassídicos. Na medida em que o Judaísmo Reformista ganhou popularidade, os dois grupos uniram forças em apoio ao Halacá e em oposição à reforma radical. Conhecidos por sua vestimenta inconfundível (barbas, pele, chapéus, costeletas e batas para homens), o Hassidismo está entre os grupos Judaicos mais visíveis.
Pogroms
Em meio à turbulência política e econômica da Europa Ocidental e Central, o nacionalismo se tornou um slogan e as ideias pseudo científicas sobre raça proliferaram. Um onda de antissemitismo atingiu os Judeus na Europa e nas colônias Européias em todo o mundo. Da Rússia a Damasco, e de Gdansk a Argel, os Judeus foram agredidos como intrusos e acusados por uma ampla gama de problemas sociais e econômicos. Acusações e rumores levaram a motins e pogroms (a palavra russa que significa destruir violentamente, utilizada para descrever motins ocorridos no Leste Europeu no século XIX e início do XX; que resultaram no estupro e assassinato de Judeus e roubo e destruição de suas propriedades).
Sionismo
Diversos eventos a partir do século XIX até o início do século XX demonstraram que os Judeus não eram tratados como iguais. Na Rússia, pogrons violentos e instabilidade econômica levaram mais de dois milhões de pessoas a emigrar nos anos 1880. A grande maioria se refugiou na América do Norte, e uma pequena fração de pioneiros se deslocou para a Palestina, o local de origem do antigo Judaísmo. Alguns líderes Judeus, em resposta ao crescente nacionalismo e antissemitismo do final do século XIX e início do século XX, seguiram Theodor Herzl, que defendia um tipo de Judaísmo nacionalista laico, um retorno à terra bíblica de origem do povo Judeu. Judeus religiosos haviam orado na direção de Jerusalém e clamado por um retorno Messiânico à Terra de Israel desde que o Segundo Templo fora destruído. Porém o movimento político moderno, conhecido como Sionismo, unia os impulsos religiosos pelo “retorno” às ideias laicas pela construção de uma nação no estilo Europeu para os Judeus. É importante notar que o Sionismo nada mais era do que uma forma de nacionalismo Judaico que se iniciou no século XIX. Alguns Judeus lutavam por autonomia política e territorial em diferentes partes do globo, outros lutavam por autonomia cultural e política nas nações onde viviam. Esses movimentos nacionalistas da Diáspora desapareceram em sua maioria em 1948 quando Israel se tornou um estado independente.
Holocausto
"O antissemita cria o Judeu", escreveu o filósofo francês Jean-Paul Sartre em 1945. O antissemitismo gerou uma imagem falsa do que é um Judeu, fazendo com que sejam vistos como um perigo social para a maioria dos Europeus. Depois da Primeira Guerra Mundial, as democracias liberais em toda parte pareciam estar fracassando. A ideia de que os Judeus eram responsáveis por crises sociais e econômicas convenceu muitos a usar raça e etnia como um teste para determinar quem fazia parte e quem devia ser excluído. Foi nesse clima que o partido Nazista foi eleito para o poder em 1933. Combinando sua visão expansionista com teorias espúrias de pureza racial, os Alemães rapidamente passaram a controlar a maior parte da Europa central e oriental
O genocídio se tornou um fenômeno cotidiano, as Leis de Nuremberg obrigaram os Judeus a se identificar com um crachá, e criminalizaram a intimidade sexual entre Judeus e gentios. Leis foram aprovadas em toda a Europa e no Mediterrâneo que excluíam os Judeus de certas profissões e do direito de frequentar a escola. A cidadania foi revogada e muitas pessoas foram forçadas a trocar suas casas por abrigos superlotados. Inspirados no gueto medieval, os Nazistas foram mais longe, matando Judeus pela restrição de alimentos e remédios, confinando milhares de pessoas em espaços aptos e receber muito menos, e por fim proibindo totalmente os Judeus de se exilar. Trabalhando em colaboração com governos em toda a Europa, oficiais Nazistas decretaram uma “Solução Final” para a “Questão Judaica” no início de 1942. Os Judeus foram recolhidos à força e enviados para campos de concentração locais e campos de extermínio na Polônia e na União Soviética. Seis milhões de judeus morreram no Holocausto.
Texto da Dra. Jessica Hammerman e da Dra. Shaina Hammerman
*Moses Mendelssohn, "19. Judaism and civil law," Jerusalem: Religious Power and Judaism, 1783
Leituras sugeridas:
Pierre Birnbaum and Ira Katznelson, eds., Paths of Emancipation: Jews, States, and Citizenship (Princeton: Princeton University Press, 1995).
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Shmuel Feiner, O Iluminismo Judaico, traduzido por by Chaya Naor (Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2004).
Zvi Y Gitelman, Um século de ambivalência: os judeus da Rússia e da União Soviética, de 1881 ao presente (New York: Schocken Books, 1988).
Deborah Hertz, How Jews Became Germans: The History of Conversion and Assimilation in Berlin (New Haven: Yale University Press, 2007).
Gershon Hundert, ed., Essential Papers on Hasidism: Origins to Present (New York: NewYork University Press, 1991).
Marion Kaplan, Entre a Dignidade e o desespero: a vida dos judeus na Alemanha nazista Germany (Oxford University Press, 1999).
Jacob Katz, Out of the Ghetto: the Social Background of Jewish Emancipation, 1770-1870 (Cambridge: Harvard University Press, 1973).
Michael Marrus and Robert Paxton, Vichy France and the Jews (Stanford University Press, 1995).
Michael Meyer, Response to Modernity: A History of the Reform Movement in Judaism (Oxford: Oxford University Press, 1988)
Ada Rapoport-Albert, ed. Hasidism Reappraised (Oxford: Littman Library of Jewish Civilization, 1998).
Jean-Paul Sartre, Anti-Semite and Jew, translated by George J. Becker (New York: Schocken Books, 1948).
Art Spiegelman, Meta Maus (New York: Pantheon Books, 2011).
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