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Uma breve história da representação do corpo na escultura Ocidental

Palestrantes: Dr. Steven Zucker e Dra. Beth Harris

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Criado por Beth Harris e Steven Zucker.

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Transcrição de vídeo

Por toda a história do ocidente houve uma tensão, um conflito entre naturalismo e abstracionismo. É um conflito que vai e volta. O que queremos mostrar nesse vídeo é um pouco da origem dessa tensão. Vamos começar olhando para uma cópia romana antiga de uma escultura grega. Estamos voltando ao período da antiguidade clássica. O período em que a Grécia e a Roma antigas dominavam o Mediterrâneo e a cultura europeia. Esta é uma escultura de um artista chamado Policleto. Chama-se Doríforo, o que significa "lanceiro". Originalmente, ele segurava uma lança. Mas a razão pela qual estamos a observando é por ser uma representação fantástica do corpo humano, numa posição que chamamos contrapposto. É incrivelmente naturalista ou realista. Naturalismo é uma palavra usada com frequência por historiadores da arte para falar sobre o modo como algo parece próximo à natureza. Similar ao que vemos no mundo à nossa volta. Neste caso, estamos observando as proporções. O entendimento dos contornos do corpo, dos músculos do corpo, dos ossos embaixo da carne. E como o corpo se move no espaço e como distribui o peso conforme se move. E como esse peso se desloca conforme o corpo se move. É um entendimento complicado do corpo, que se traduz nessa escultura de mármore. Parece tão real, que quase esperamos que se mova e fale conosco. Claramente foi feito por alguém que se importava muito com como o corpo humano se parecia, com a mecânica do corpo humano. Baseou-se em uma observação direta e cuidadosa. Então, aqui temos não somente um artista, mas uma cultura que se importava com ciência e com o potencial humano. Essas são boas formas de descrever a cultura da Grécia e da Roma antigas. Vamos adiantar o tempo em 1500 anos na cidade de Chartres, ao sul de Paris, até uma enorme catedral. Na frente dessa catedral existem algumas estátuas bastante estilizadas que chamamos de estátuas de moldura. Elas são anexadas à arquitetura. Imediatamente notamos uma mudança significativa em relação ao Doríforo. O Doríforo, o lanceiro, estava em pé. Em outras palavras, podemos andar ao seu redor. Isso é importante pois quando o escultor pensou em como fazê-la, pensou em como ficaria de todos os pontos de vista. Mas quando se esculpe algo que é unido à arquitetura, neste caso, a colunas, a escultura medieval, pois estamos aqui na Idade Média, o escultor pensou em fazer com que as estátuas combinassem com as colunas que estavam atrás. As estátuas são altas e alongadas, como as colunas que estão atrás. Quando olhamos para o Doríforo, temos a sensação de que o homem está mesmo andando. Aqui, vemos estátuas que não são deste mundo. Estão acima de nós, são de outro mundo. E elas não estão nos olhando, não estão notando as coisas ao seu redor. Elas são símbolos do corpo humano. Podemos dizer que elas são transcendentes. Elas transcendem a existência terrena. Depois da queda do Império Romano, o que ocorre na Europa ocidental é a ascensão do Cristianismo. O corpo humano era menos importante que o lado espiritual. Portanto, a arte cristã do período medieval costumava focar em formas de abstrair o corpo e criar um símbolo do espírito, que, por definição, não tem forma. Assim, não é uma surpresa que os artistas cristãos passaram a esse tipo de interpretação abstrata. O que queremos dizer quando falamos em abstrato? Primeiramente, as estátuas são altas e alongadas, como colunas. Elas não parecem um corpo, mas sim uma forma de coluna. Pode-se notar, também, que quando olhamos para as roupas que cobrem as estátuas, não percebemos muito bem o corpo por trás. Ao contrário, o foco real está no estilo. Pode-se ver isso nas roupas, nas plataformas diretamente abaixo das estátuas. Então há esse equacionamento entre a beleza decorativa e a espiritual. Essas formas decorativas podem ser vistas nas lindas linhas onduladas na parte de baixo das vestimentas. Podemos também dizer que essas estátuas não tem peso. Uma característica do ser humano é ter corpo. Nos movemos pelo espaço e temos peso. Quando olhamos para o Doríforo, percebemos isso. Ele está firme no chão, e se move no espaço. Essas estátuas, ao contrário, têm pés que apontam ligeiramente para baixo. Elas não conseguiriam ficar em pé dessa forma. Então, passam a sensação de não ter peso, o que combina com suas qualidades de abstração e transcendência. Olhemos as suas proporções, o comprimento de suas pernas em comparação com seus corpos, o comprimento dos seus torsos e das cabeças. Não há nada de naturalista neles. São tão alongados. Mas são menos bonitos, menos bem feitos que o Doríforo? São apenas diferentes, os objetivos eram diferentes. O artista não era menos habilidoso ou queria fazer o Doríforo e acabou fazendo essas estátuas do lado de fora da Catedral de Chartres. Elas foram uma expressão da fé do povo da Idade Média. Assim, o Doríforo e as estátuas de Chartres são espetaculares mas cada uma responde a necessidades culturais completamente diferentes. Podemos ver isso de novo no Renascimento. Estamos cerca de 200 anos depois, olhando uma escultura do grande escultor renascentista, Donatello. Estamos no início do Renascimento, em Florença, e vemos como os artistas renascentistas olham para trás, não para as estátuas na catedral da Idade Média, mas para a antiga arte grega e romana, como o Doríforo. Note que Donatello retirou toda a roupa da escultura, como no Doríforo. Não é uma interpretação que se preocupa com o padrão das vestimentas. Se preocupa com a mecânica e a beleza do corpo humano. Muito similar ao Doríforo. Mas devemos dizer que Donatello não está, especificamente, olhando para as esculturas de Chartres e as rejeitando. Ele rejeita as formas pelas quais os artistas da Idade Média abordam o corpo humano. E, assim, Donatello personifica a ideia do Renascimento. Renascimento é uma palavra de origem francesa que se refere a um renovado interesse no Humanismo clássico. Nesse caso, na interpretação do corpo humano. E uma grande parte do humanismo do Renascimento é também apenas um interesse na visão de mundo secular. É um interesse no mundo natural. Novamente, a arte baseia-se na observação do mundo visual. A história é complicada. No Renascimento, temos um retorno a uma forma antiga de naturalismo. E fica ainda mais complicado no mundo moderno, quando os artistas podem escolher entre Naturalismo e Abstracionismo ou qualquer variação entre eles. Um bom exemplo disso no Século XX é o artista Giacometti. Giacometti tinha à sua disposição um mundo de reproduções. No Século XX, temos imagens a nossa volta. Temos uma perspectiva da História que não estava disponível para artistas de muitas gerações e séculos atrás. Assim, quando Giacometti interpreta o corpo humano, ele não busca fidelidade à natureza. Não está tentando resolver os problemas que Policleto, o escultor do Doríforo, buscava solucionar. Ele sabe que é algo que ele é capaz de fazer. Ao invés disso, ele busca mais emoção, talvez algo mais filosófico. Ele quer que esse corpo simbolize alguma coisa. De alguma forma, ele acaba por estar mais perto de Chartres. Ele também sabe o que o Renascimento fez, o que o mundo clássico fez, e ele está tomando decisões muito conscientes. A escultura de Giacometti no período após a II Guerra Mundial Há muitas razões para Giacometti ter optado por voltar a essa forma de abstracionismo. Mas esse é provavelmente um tema outro vídeo. [Legendado por: Priscilla Gaspar] [Revisado por Pedro Byrro]